Situada na Praça da República, em Viana do Castelo, a CASA VALENÇA, fundada em 07 de Maio de 1839, é um dos mais antigos estabelecimentos comerciais desta cidade. Tem ainda a singularidade de se manter sempre na posse de elementos da família do seu fundador.
O seu fundador, Francisco Passos de Oliveira Valença, começou por vender nesta loja, tecidos e alfaiataria. Presentemente, a CASA VALENÇA comercializa artesanato regional.
Desde longa data que, um dos mais emblemáticos estabelecimentos comerciais de Viana do Castelo é, inquestionavelmente, a Casa Valença. Efectivamente, a Casa Valença, Implantada na Praça da República, fundada em 7 de Maio de 1839, por Francisco de Passos Oliveira Valença, por ser a terceira casa comercial mais antiga da cidade e a mais antiga existente na Praça da República, centro cívico citadino, e pelas suas características peculiares, constituiu, durante muitos anos, um autêntico “ex-libris” do comércio vianense.
De referir que a Casa Valença apareceu inicialmente como loja de panos no rés-do-chão e alfaiataria no 1° andar. E só em 1912, acrescentou ao estabelecimento a agência da Companhia de Seguros TAGUS, mas o que começou a tornar esta casa comercial de singular e a dotá-la de grande popularidade no burgo, foi o funcionamento como ponto de reunião, especial centro de tertúlia das figuras mais representativas da terra.
Pelos alvores do século XX, já foi o filho do fundador, de seu nome João de Passos Oliveira Valença quem passou a administrar a Casa Valença, e esta, além da sua função comercial, cada vez mais, reforçou a sua frequência como centro de tertúlia dos mais altos valores do Alto Minho, principalmente do campo das letras, da política, do jornalismo, da magistratura e do professorado. Apenas como exemplos dessas figuras citaremos, Luís Xavier Barbosa, Guerra Junqueiro, Conselheiro Malheiro Reimão e Domingos Terroso.
Honrado comerciante e devotadíssimo vianense abnegadamente solidário, João de Passos Oliveira Valença, referenciou-se como personalidade profundamente empenhada na vida social da cidade, principalmente no que concerne às instituições de solidariedade social. Bastará dizer que o Hospital de Velhos e Entrevados da Caridade 8actual Congregação da Caridade) ficou-lhe credor de serviços inolvidáveis ao fazer parte da Mesa da Administração durante 25 anos, primeiro como Tesoureiro e depois como Superior.
Paradigma de desvelado protector dos mais necessitados, João de Passos Oliveira Valença faleceu em 19 de Novembro de 1939.
Com a morte deste, passou a proprietário e gerente da Casa Valença o seu primo e até aí empregado, Augusto Esteves da Silva Valença, conceituada figura dotada de inteligência perspicaz que, devido à sua pequena e frágil estatura física, ficaria popularmente conhecido por "Valencinha”, derivando então o estabelecimento comercial para fazendas, camisaria e artigos diversos do vestuário masculino e, ainda, agente nesta cidade da Companhia de Seguros “A Mundial”.
Sob a gerência de Augusto Valença, a já então muito prestigiada Casa Valença começou gradualmente a granjear um carisma de estabelecimento invulgar, de certa maneira extraordinário e também algo pitoresco.
Na realidade a Casa Valença tornou-se cada vez mais afamada principalmente por expor na sua montra aberta para a Praça da República, duas espécies de coisas raras que até aí nunca ninguém na cidade tinha tido a faculdade de patentear. Uma era constituída pelas quadras-gazetilhas compostas pelo próprio Augusto Valença, plenas de actualidade e sempre impregnadas de todo um sabor pitoresco e mordaz, que narravam com oportunas críticas em verso, certos acontecimentos da comunidade, determinadas tomadas de posição das entidades oficiais, estranhas bizarrices que surgiam no dia-a-dia, as sempre gravosas dificuldades da vida etc. A outra, ainda mais popular e curiosa, eram os esquisitos e excêntricos exemplares de batatas, nabos, tomates e outros produtos agrícolas, que pelo seu aspecto estrambólico e caprichoso, constituíam "autênticos fenómenos" da Natureza, vulgarmente ditos do "Entroncamento".
Mas várias outras facetas peculiares se podiam apontar ao saudoso Augusto Valença e uma delas, empreendida pelos meados do século passado, muito deu que falar na cidade.
O acontecimento conta-se em breves palavras.
Um dia, desses já longínquos anos cinquenta, Augusto Valença forrou a montra com papel, deixando destapado apenas um pequeno círculo, abaixo do qual um letreiro bem visível dizia:
PARA HOMENS
Acontece que o inusitado cometimento imediatamente aguçou a curiosidade da população que transitava pela movimentada Praça da República! Homens e mais Homens a espreitar. Havia até quem repetisse o acto para ter a certeza que observou bem “o fruto proibido” pudoramente tapado pelo papel.
O pior foi no que diz respeito às mulheres. Com a curiosidade a fervilhar-lhes as mentes e, naquele tempo, sem terem coragem para lá irem espreitar pelo buraco, não foram poucas as que pedira os favores de um homem seu amigo ou familiar para lá ir ver o que se mostrava e dizer-lhes tudo em pormenor!
E quando alguns dias depois, de repente, a montra se destapou, todos puderam ver que afinal!... Tudo aquilo que tanto interesse e até tanta intriga despertara por ser - SÓ PARA HOMENS - nada mais era do que dezenas de artigos para homens, alguns até dos mais usualmente vendidos na Casa!... Suspensórios, colarinhos, botões da moda parisiense, ceroulas, camisas de cerimónia etc.!...
Após a morte de Augusto Valença, ocorrida em 30 de Dezembro de 1975, a concorrida Casa Valença passou a ser propriedade de seu filho António de Castro Valença, vianense bem conhecido e respeitado na cidade.
Actualmente, o estabelecimento comercial que, como se descreveu, continua na posse da família de origem, através do seu descendente em 4ª geração, António de Castro Valença, apresenta-se com características mais modernas, dando preferência à comercialização de atoalhados, acolchoados e artigos regionais e, não deixa de ser digno de registo que, passados que foram 170 anos de portas abertas ao público, a Casa Valença ainda continua a impor-se no panorama do comércio tradicional vianense.