Os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) foram ontem informados pela administração da empresa de que nem todos receberão ordenados atempadamente mas que, "se não chegar para todos, ficam de fora os ordenados mais altos", transmitiu à VISÃO António Barbosa, presidente da Comissão de Trabalhadores. As transferências costumam ocorrer por volta do dia 26 de cada mês, mas só ontem, dia 31, é que os funcionários tiveram conhecimento da situação.
A empresa está em dificuldades há vários anos, mas esta é uma situação inédita. A Comissão de Trabalhadores foi chamada à administração pelas dez da manhã de ontem. Foi-lhes transmitido que, apesar de ter conseguido desbloquear parte do financiamento, não teriam dinheiro suficiente para pagar atempadamente a totalidade dos ordenados. Pouco antes do almoço, os representantes dos trabalhadores voltaram a ser chamados. O presidente dos ENVC, Jorge Camões, que se encontra na Venezuela, pedira que lhes fosse transmitido que, apesar das dificuldades, estava assegurado o pagamento de 70% dos cerca de 700 ordenados. E que a questão estava a ser tratada "ao mais alto nível, no seio do Governo". As transferências começariam a ser efetuadas de imediato, começando pelo pagamento dos ordenados mais baixos.
"A comissão de trabalhadores não vê inconveniente" neste procedimento, estando convencida que as transferências estão a ocorrer, tal como anunciado, embora não tenha confirmado se efectivamente algum vencimento foi pago. No entanto, a VISÃO sabe que, apesar da negociação com várias entidades bancárias, os cofres da empresa não terão mais do que uma parte das verbas necessárias para pagar a totalidade dos ordenados (cujo montante ascende a cerca de um milhão de euros). A VISÃO tentou, sem sucesso, contactar Luís Miguel Novais, administrador da Empordef com este pelouro.
A empresa encontra-se numa grave situação financeira. O ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar Branco, prometeu a entrega do plano de restruturação da empresa para Setembro. Depois adiou-a para o final de outubro. Mas hoje, dia 31, o plano de restruturação continuava por apresentar. Em Fevereiro, foi apresentado à tutela um estudo de viabilização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Esse estudo, apresentava três cenários, desde a manutenção da situação, ao encerramento da empresa. A tutela optou pela solução intermédia e decidiu avançar com a restruturação, que passava pela saída de cerca de 300 trabalhadores, a admissão de duas dezenas de quadros altamente qualificados, a recomposição do capital e a recalendarização dos contratos em execução. O plano de viabilização propunha ainda a parceria com um estaleiro estrangeiro, o que só poderia ocorrer após a restruturação da empresa. O plano começou a ser implementado mas, após as eleições legislativas de Junho, foi dada ordem para travar os trabalhos e definida uma data para um novo plano (primeiro setembro, depois finais outubro). Fonte próxima do processo explicou à Visão que este adiamento poderá ter custado à empresa "mais uns milhões de euros de prejuízos" e que "a janela de oportunidade para a sua salvação se vai fechando sem que existam sinais de que há um plano alternativo".
Em 2010, os ENVC fecharam o ano com um prejuízo de 41,9 milhões de euros.
Texto: Visão online (01.11.2011)