O Gil Eannes no dia de lançamento ao mar |
Mandado construir nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo pelo Grémio dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau, foi lançado ao mar no dia 19 de março de 1955.
Transcrevo, de seguida, a história deste navio, contada por quem o construiu.
Este "Gil Eannes" veio substituir um outro navio com o mesmo nome e que desempenhou ao longo dos anos a mesma missão nos mares da Gronelândia. É óbvio que o "Gil Eannes" que construímos dispunha de condições que o seu antecessor não poderia ter, já que não tinha sido feito para a actividade que desempenhou e só conseguida depois de reconvertido.
O "Gil Eannes", em 1955, na primeira viagem, iria assistir uma frota pesqueira de 70 unidades, com uma arqueação bruta de 64.093 toneladas e capacidade para 950 mil quintais de peixe, tendo a bordo cerca de 4.900 tripulantes.
Era um hospital flutuante. Composto por 3 pavimentos devidamente apetrechados para todas as situações hospitalares, a sua capacidade permitia-lhe receber até 70 doentes.
No primeiro pavimento, estavam instalados os gabinetes de consulta e de radiologia, apetrechados com o material mais moderno para a época.
Dispunha ainda de salas de espera e tratamento, câmara escura, enfermarias completamente isoladas para doentes infecto-contagiosos, com serviços sanitários e com privativos: camarotes dos dois médicos , capelão e biblioteca, alojamento para 12 convalescentes, refeitório e sala de estar, copa das restantes enfermarias, farmácia, depósito de medicamentos, arrecadação da roupa dos internados, lavandarias, secagem e engomarias comuns, etc.
No segundo pavimento, ficavam uma enfermaria para oficiais, outra para doentes em observação, com os respectivos serviços sanitários, a enfermaria geral com 40 camas subdivididas por divisórias, servidas por largas janelas que davam a possibilidade aos doentes de poderem assistir dos seus leitos e em conjunto à celebração da missa. A vante desta enfermaria, este pavimento dispunha também dos alojamentos dos enfermeiros, sala dos curativos e gabinete do enfermeiro de vela.
No terceiro pavimento, localizava-se o bloco operatório e de ortopedia, constituído por ampla sala de operações , apetrechada do necessário material, salas de desinfecção e esterilização, gabinete de agentes físicos e laboratório de análises.
Os 3 pavimentos ligavam-se por amplas escadas e elevador com maca para transporte de doentes. Em situações de emergência, a lotação do navio podia ir até aos 320 doentes.
O "Gil Eannes" dispunha, como se subentende, de local de culto. Para além da capela da enfermaria, possuía o navio de uma capelinha que abria a toda a largura da tolda, onde sobressaía um artístico painel a óleo, da autoria do pintor Domingos Rebelo, representando ao centro Nossa Senhora dos Mares e tendo aos lados um pescador e um grupo familiar .
A coordenação dos trabalhos de recuperação, que só se tornaram possíveis graças à colaboração dos ENVC e a cerca de duas dezenas de sub-empreiteiros, esteve a cargo do Sr. Gabriel Amorim, técnico dos ENVC.
O "Gil Eannes" foi adquirido pela Comissão Pró Gil Eannes e encontra-se neste momento na antiga doca comercial de Viana do Castelo a funcionar como Navio Museu.
(Texto retirado do site dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo)
O Gil Eannes na atualidade, junto à antiga doca comercial |