Não deixe de visitar a exposição “Memórias da Pesca Artesanal” levada a efeito no largo de S. Domingos, em Viana do Castelo, pela Junta de Freguesia de Monserrate e Rede Social de Viana do Castelo.
A exposição estará patente até 12 de Maio de 2012.
"Falar da pesca artesanal da nossa Ribeira é regressar ao passado e recuar no tempo. O bairro mais típico de Viana do Castelo era o da nossa Ribeira, tinha um encanto pitoresco e castiço. O seu porto de mar era o impulsionador do progresso e das tradições marítimas da nossa terra. As necessidades e os costumes da gente do mar tinham um ritmo mais lento e menos caprichoso, mas era no pescador onde se encontravam os hábitos de outros tempos. O pescador era o principal ator, pois vivia a sua vida um tanto à margem dos outros habitantes.
Eles, os pescadores, aguardavam a todo o momento de irem para o mar, podíamos encontra-los na taberna habitual, silenciosos, na frente de um copo de verdasco, ou era vê-los a olhar o mar ou o movimento da barra. Mas, se os chamássemos à conversa, a sua alma abria-se para contarem as suas peripécias ou as tormentas da vida do mar.
Elas, as mulheres, são as intermediárias entre a gente do mar e a gente da cidade, participam na vida da casa quer à porta de suas casas, remendando as redes ou ainda a percorrerem as ruas da cidade a anunciar o peixe “fresquinho da nossa barra”, mulheres desenvoltas e ágeis na sua atividade.
Foi em pequenos e frágeis barcos que gerações de homens da ribeira ganharam o pão de cada dia. Os pequenos barcos, movidos a remos e uma pequena vela saíam para a faina diária da pesca, era o único recurso de toda a família, as mulheres da Ribeira eram as grandes mártires de várias gerações que ficavam a rezar pelo seu homem. Quando na barra em dias de temporal, surgia o seu barco, eram as lágrimas de agradecimento à Senhora da Agonia. Quantos naufrágios os filhos e as mulheres dos pescadores viam esvaziar-se da presença do pai ou do marido.
O porto de pesca é um lugar de trabalho, intenso, rápido e constante. A chegada dos barcos enchia de animação e alegria a nossa ribeira. O movimento de barcos, a sua chegada, azáfama da descarga do peixe que os pescadores vão lançando dos barcos e as mulheres carregam ou regateiam, a um ritmo, ora lento, ora agitado, das vozes, das canções e do bater das ondas. Este era um dos quadros mais belos que se podia contemplar em Viana do Castelo.
Ficamos com as memórias, esta já não é a realidade. Nos últimos 20, 30 anos, voltamos as costas ao Mar e deixamos de ver nele uma vantagem. Abandonamos a pesca, os portos, os transportes marítimos e a pesca artesanal. O Mar foi o parente pobre do 25 de Abril. Mas, o Mar era o maior contributo e o mais valioso que se podia ter dado para o projeto europeu. A influência do Mar é decisivo para a História de Portugal, é determinante para o desenvolvimento do país.
O sector da pesca artesanal quase que desapareceu, o número de pescadores reduziu substancialmente e esta é também a realidade da pesca artesanal da nossa Ribeira.
Esta exposição é uma homenagem a todos os pescadores da nossa Ribeira."
Texto retirado do Flyer da Exposição.